domingo, 24 de agosto de 2014

#1 "A Revolução dos Bichos", George Orwell.

Acho justo começar as postagens do blog resenhando esse que, sem dúvidas, foi o livro mais importante na minha fase de formação política. O li aos 17 anos. Era 2005 e, no ano seguinte, eu votaria pela primeira vez. Eleição presidencial e a adolescente esquisita tinha o poder de recriar a história do Brasil com um simples apertar de botão. E queria fazer isso conscientemente. Ah! Se eu soubesse das transformações que ocorreriam após a leitura, teria mergulhado antes nesse enredo corajoso, inteligente (e chocante) do mendigo mais bacana da literatura mundial.


Tudo acontece na Granja Solar. Cansados da exploração e das péssimas condições em que vivem, os animais, inspirados pelo porco Major, decidem tomar as rédeas da fazenda através de (surpresa!) uma revolução envolvendo todos os seres de 4 patas daquele lugar.
Major é um porco velho e sábio, portanto, respeitado por todos. Quando estava prestes a morrer, reúne os bichos e conta-lhes o sonho que teve: alimentação e moradia divididos igualmente. Ninguém tem mais, ninguém tem menos. Os ovos das galinhas virariam pintinhos, não produto comercial na mão dos homens. O leite das vacas alimentariam apenas seus bezerros e não figurariam mais nas mesas dos humanos. Aposentadoria também estava entre as mudanças. Era um mundo novo, diferente do que vivenciaram até então. A esperança nasceu.
Quem lideraria a revolução? Os porcos, considerados animais inteligentíssimos. Dois especificamente: Bola de Neve e Napoleão. Depois de várias reuniões, é chegada a hora de colocar o plano em prática. Em uma noite, eles atacam o velho Jones, seu dono, e o expulsam dali. A batalha foi sangrenta, muitos saíram feridos mas o sonho aconteceu. Liberdade! Igualdade! E a Granja Solar se transforma em Granja dos Bichos (que, inclusive, tem hino).

Bola de Neve é idealista e leva ao pé da letra todos os ensinamentos passados por Major. Pinta no fundo do celeiro os sete mandamentos, que deveriam ser seguidos com fidelidade.

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.
2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo.
3. Nenhum animal usará roupa.
4. Nenhum animal dormirá em cama.
5. Nenhum animal beberá álcool
6. Nenhum animal matará outro animal.
7. Todos os animais são iguais.E é exatamente o acontece. A felicidade, finalmente, chega para àqueles que sofreram tanto por tanto anos nas mãos humanas. O último mandamento é seguido à risca. Todos são iguais.


No entanto, Napoleão não tem o mesmo interesse com o coletivo que o companheiro e não demora a mostrar suas reais intenções.
Cria uma história mentirosa que acarreta na expulsão de Bola de Neve, ficando só ele no poder. As coisas começam a mudar e uma ditadura, agora implantada pelos porcos, cai sobre a Granja.



Em "A Revolução dos Bichos", Orwell, um socialista descrente, satiriza a revolução russa. Major nada mais é do que Karl Marx, criador das bases do Socialismo. Bola de Neve, sonhador, um verdadeiro revolucionário preocupado com seus semelhantes, Leon Trótski. Napoleão, o déspota sanguinário e intolerante, Stalin. E essa ligação com a história real deixa o livro ainda mais impressionante. A riqueza (e crueza) de detalhes, muitas vezes, nos fazem parar por longos minutos e analisar o que acabamos de ler, afinal, sabemos que isso pode acontecer a qualquer momento em qualquer lugar do mundo. E isso só pode ser evitado com o voto consciente. E fui com esse pensamento à urna. E fiz o que achei que tinha que fazer.

O livro é incrível e, na minha opinião, nenhum outro escritor falará de política de maneira tão simples e, ao mesmo tempo, tão impactante quanto Orwell. É um choque de realidade, de esclarecimento. Deixa o leitor mais atento, mais crítico, menos passivo. Abre nossos olhos, nossa mente. E quase 70 anos depois de sua publicação, ainda choca o leitor por sua semelhança com o que já estamos acostumados a ver no mundo real.

"As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco."





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